Em 1954, Charles Chaplin cantava, em “Smile”, sobre a importância de sorrir mesmo diante da tristeza e das dificuldades. “Sorria, e talvez amanhã você verá o sol brilhando para você”, diz a letra da canção. Talvez o ator já soubesse que sorrir, rir ou mesmo dar uma sonora gargalhada poderia ser um bom remédio para várias situações, até mesmo as mais complicadas. É inclusive isso o que dizem vários estudos científicos e também especialistas, que comprovam as incontáveis contribuições que uma risada pode ter para a qualidade de vida e para o bem-estar das pessoas. E nesta quarta-feira, 6 de novembro, data em que foi celebrado o Dia Nacional do Riso, lembramos as principais delas.
Para a ciência, por exemplo, o riso tem um impacto profundo na saúde física e mental das pessoas. “Quando rimos, o corpo libera endorfinas, hormônios que promovem bem-estar, e diminui o cortisol, reduzindo o estresse. O riso melhora a circulação sanguínea, diminui a pressão arterial e fortalece o sistema imunológico”, lista a médica psiquiatra Cíntia Braga (@cintiabragapsiquiatria).
Conforme um estudo publicado no periódico “Proceedings of the Royal Society B”, da Academia de Ciências da Grã-Bretanha, rir também pode ser uma forma de amenizar a dor. A pesquisa, desenvolvida pela Universidade de Oxford, apontou que as pessoas sentiam menos dor depois de dar uma boa risada. Isso acontece porque, ao rir, o corpo libera substâncias químicas que atuam como uma espécie de analgésico natural.
A risada ainda tem benefícios significativos para o coração. Segundo um estudo japonês publicado, em 2016, no “Journal of Epidemiology”, pessoas que riem com uma frequência maior têm menor prevalência de doenças cardiovasculares do que aquelas que nunca riem. Outra pesquisa, desenvolvida por cardiologistas do Centro Médico da Universidade de Maryland, em Baltimore, nos Estados Unidos, mostrou que o riso pode ajudar a prevenir doenças cardíacas. Publicado em 2000, no “Science Daily”, o estudo descobriu que pessoas com doenças no coração tinham 40% menos probabilidade de rir em diversas situações em comparação com pessoas da mesma idade sem doenças cardíacas.
Os benefícios de uma boa risada, porém, vão além das questões físicas. A psicóloga Vanessa Teixeira pontua que o riso pode ser um grande aliado em momentos de tensão, ajudando a trazer mais leveza para situações complicadas e também para a vida como um todo. “Quando usamos o riso, o humor como um tipo de estratégia de defesa contra as dificuldades, acabamos tornando as circunstâncias difíceis menos tensas, menos rígidas. Então acabamos ficando menos rígido diante dos nossos erros e dos outros. E, quanto menos rígido formos, mais leve a vida vai ficando”, acredita. “É como se a gente fosse sentir assim: tudo bem errar, tudo bem dar uma mancada, isso pode ser até engraçado, e a vida segue. Mas, se for o oposto, se a gente fica muito sério diante dos nossos tropeços, fracassos, e tudo mais, a gente passa a se cobrar muito. E essa autocobrança leva a um adoecimento”, complementa.
Aliás, dar mais risadas pode ser até mesmo uma recomendação médica diante de adoecimentos mentais. A psiquiatra Cíntia Braga explica que rir pode ser uma “indicação” e fazer parte de abordagens terapêuticas como a terapia do riso. “Esse recurso é eficaz especialmente em pacientes com quadros leves a moderados de estresse, ansiedade e depressão. O riso, nesses contextos, atua como coadjuvante, ajudando a reduzir a carga emocional e promovendo um estado mental mais leve e receptivo à psicoterapia. Porém, é importante observar que ele não substitui tratamentos convencionais, especialmente em casos graves”, afirma.
Um artigo, publicado em 2016 na “National Library of Medicine”, faz uma revisão bibliográfica sobre os benefícios do riso para a saúde mental e aponta que a risada é uma sensação positiva e uma forma útil e saudável de superar o estresse. O conteúdo também define a terapia do riso como um tipo de terapia cognitivo-comportamental capaz de tornar saudáveis as relações físicas, psicológicas e sociais, melhorando, em uma última análise, a qualidade de vida.
Vanessa Teixeira ainda relaciona o riso com a criação de laços entre as pessoas. “Além de ser uma forma de descarregar energias, há também uma cumplicidade com a pessoa com quem você troca uma risada. Por exemplo, se vou contar para alguém um caso que tem algo engraçado, quando rimos daquela situação estamos cúmplices daquelas circunstâncias engraçadas. Outra pessoa ao redor, que não sabe dos detalhes, não vai achar graça. Então, o riso se torna também uma forma de criar um laço, um elo com alguém, porque ele marca essa troca que você está fazendo com outra pessoa”, pontua.
A psicóloga acrescenta ainda que o riso leva à possibilidade de ter uma boa convivência com quem está por perto. “Isso, a longo prazo, é importantíssimo. Aquela pessoa que é muito amarrada, muito séria, a gente não costuma querer se aproximar. Ela afasta as outras pessoas, mas o riso agrega e aproxima”, observa.
Falta riso à sua vida?
Para aqueles que sentem falta de uma boa risada, a psiquiatra Cíntia Braga explica que o riso pode ser estimulado. Para isso, as pessoas podem optar por exercícios de riso, terapia do riso ou apostar na prática de assistir a comédias que, segundo ela, podem “despertar” a capacidade de rir. “Estudos indicam que mesmo o ‘riso forçado’ gera benefícios ao corpo, como a liberação de endorfinas e o relaxamento muscular. Ao estimular o riso, favorecemos uma perspectiva mais positiva, reforçando a resiliência e promovendo uma mentalidade mais saudável, elementos importantes na prevenção de doenças emocionais”, afirma.
A psicóloga Vanessa Teixeira diz que o caminho pode passar pela busca por mais humor e leveza. “Acho que a gente pode tentar observar do que a gente tem se alimentado, não de comida, mas de convívio. Quando a gente fica buscando muita notícia de tragédia – que está no mundo –, aí não tem como sorrir. Não estou falando para se alienar, mas também não precisa ficar tão grudado nisso, porque, além dessas coisas, também tem a beleza, a comédia. Então, se misturamos um pouco, alimentamos a nossa mente, nossas memórias, nossas lembranças”, diz.
“Também é bom ver com quem você anda, porque, quando lidamos apenas com gente que é muito rígida, nosso riso fica calado. Além disso, devemos pensar nos outros aspectos culturais da vida que podem proporcionar leveza até chegar ao ponto do riso, como a música, a dança, a própria atividade física, o cinema, ler alguma coisa que seja leve. Se a gente se envolver com a cultura geral, acho que isso pode nos ajudar a nos abrir para outras coisas”, conclui.
Fonte: https://www.otempo.com.br/interessa/2024/11/6/conheca-os-beneficios-de-uma-boa-risada