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quarta-feira, novembro 06, 2024

Câncer de próstata: mortes em Minas Gerais caem 15% com a influência das novas tecnologias

Quatro homens morrem, em média, diariamente por câncer de próstata em Minas Gerais. Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) apontam que, de janeiro a setembro de 2024, foram registradas 1.183 mortes em decorrência da doença. O número é 15% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado: 1.388. Especialistas afirmam que a redução se deve à influência de novas tecnologias no diagnóstico e no tratamento da enfermidade, que, de acordo com o Ministério da Saúde, é o segundo tipo mais comum entre a população masculina em todas as regiões do país — o primeiro é o câncer de pele.

Uma estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostra que, para o triênio de 2023 a 2025, 71.730 novos casos de câncer de próstata devem ser registrados no Brasil. Em uma consulta médica de rotina, exames foram solicitados ao aposentado Erivaldo Carvalho, de 74 anos, e o diagnóstico positivo para a doença acabou sendo descoberto. “Sempre fiz o controle anual e nunca havia aparecido nada. Neste ano, o médico solicitou o ultrassom da próstata e notou que o PSA (antígeno prostático específico) havia dado alteração”, relembra.

O morador de Belo Horizonte prontamente procurou um urologista. “Uma biópsia então foi solicitada, e nela foi constatado o câncer, apesar de eu não ter apresentado nenhum tipo de sintoma.” Diante do diagnóstico, Carvalho teve que optar pelo tratamento: radioterapia ou cirurgia para a retirada da próstata. “Acabei escolhendo o procedimento cirúrgico por robótica, pois eu tinha receio quanto à efetividade e os efeitos colaterais da radioterapia”, conta o aposentado. Vinte e oito dias após a retirada da próstata, Carvalho afirma que está com a vida “quase normal”.

A não evolução da doença de Carvalho para a forma mais grave se deu pela descoberta ainda na fase inicial. E isso, somado às novas tecnologias, é essencial para o tratamento eficaz e a redução das mortes. O médico e coordenador da clínica de urologia do hospital Orizonti, Leonardo Gomes, informa que a redução no número de mortes por câncer de próstata em Minas Gerais segue uma tendência mundial. “A queda da mortalidade não se deve apenas à conscientização dos homens sobre a importância de buscar atendimento médico e realizar exames preventivos, mas também à mudança nos tratamentos”.

Segundo o especialista, exames de sangue e de imagem são estratégias para “detectar o câncer”. Se ele for descoberto, tratamentos com “cirurgias mais efetivas” ajudam o paciente no processo de recuperação. “Quando a doença está avançada, novos tratamentos vêm surgindo. Antes, tínhamos muito pouco a fazer, e agora temos incorporado cada vez mais novos métodos para as fases iniciais e avançadas”, afirma.

“Vivemos em uma época privilegiada, pois temos novas tecnologias para oferecer aos pacientes. A partir de diagnósticos, podemos optar pela cirurgia robótica, que minimiza os danos. Nos casos mais avançados, temos uma série de novos medicamentos que são mais acessíveis, melhoram o controle da doença e proporcionam boa qualidade de vida. Por isso, é importante ir ao médico”.

Estudo: casos de câncer de próstata devem dobrar em todo o mundo

Um estudo publicado pela Lancet Commissions, uma revista científica, e corroborado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) indica um aumento global de 107,14% no número de casos de câncer de próstata até 2040, alcançando 2,9 milhões de diagnósticos, em comparação aos 1,4 milhão registrados em 2020. Fernando Marsicano, urologista há mais de três décadas, acredita que essa projeção está relacionada ao perfil comportamental dos pacientes e aos avanços tecnológicos nos tratamentos.

“Hoje, os pacientes de 40 anos têm se mostrado mais receptivos ao diagnóstico e tratamento precoce, diferentemente dos homens de 70 anos, que costumam buscar ajuda apenas quando o tumor já está em estágio avançado. Os diagnósticos precoces estão aumentando, assim como a possibilidade de tratá-los e evitar quadros mais sérios. E ainda bem por isso”, explicou.

O urologista reforça que é essencial que os homens procurem especialistas a partir dos 45 anos para acompanhamento médico, e aconselha aqueles que têm afrodescendência ou parentesco com pacientes que já tiveram o tumor a buscarem a especialidade a partir dos 40 anos. “O próprio estudo da Lancet e a SBU afirmam que as taxas de câncer de próstata são duas vezes maiores em homens afrodescendentes, e por isso é tão importante o acompanhamento”, reforçou.

Fernando Marsicano explica que, apesar de não haver um fator externo que justifique o diagnóstico de câncer de próstata, os casos mais graves da doença acometem, em grande parte, homens obesos e aqueles que consomem carne vermelha em excesso, além de fumantes. “Se eu comparar dois pacientes com o PSA elevado, aquele que for obeso tende a ter um quadro de câncer mais agressivo. Então, nesses casos, sugerimos que os pacientes prefiram cardápios com carne branca, além de atividade física regular”, afirmou.

Conscientização

A campanha Novembro Azul, além de buscar sensibilizar, informar, prevenir, diagnosticar, tratar e acompanhar os pacientes diagnosticados com câncer de próstata, também tem o objetivo de eliminar o preconceito em relação ao autocuidado e aos exames que diagnosticam precocemente a doença.

Marsicano destaca que os benefícios das novas tecnologias nas salas de cirurgia, como a robótica, têm proporcionado mais conforto aos pacientes e menos sequelas. “Quando o paciente tem um tumor avançado localizado somente na próstata, a indicação é a cirurgia. Com a ajuda dos robôs durante a remoção da próstata, é possível garantir menos sangramento e proporcionar ao paciente uma recuperação mais rápida. As consequências mais comuns desse tipo de cirurgia são a incontinência urinária e a disfunção erétil, que apresentam taxas menores quando realizadas com o auxílio de robôs”, disse.

“Campanhas como essa são essenciais, pois alertam os homens sobre a importância de ir ao urologista, e não somente em novembro. A ida ao médico e o diagnóstico precoce são fundamentais para melhorarmos os índices e reduzirmos as mortes. Os homens precisam se consultar com o urologista e conversar com ele. Sabemos que o exame de toque gera tabu e resistência, mas ele é o meio pelo qual o profissional avalia a próstata. Dura poucos segundos e traz informações importantes”, alerta o médico Leonardo Gomes.

Erivaldo Carvalho aconselha todos os homens a deixarem a “ignorância de lado” e procurarem o médico para fazer os exames preventivos. “Eu não apresentei nenhum sintoma da doença, e, se não tivesse me consultado, poderia descobrir o câncer de próstata em estado avançado”.

Na campanha Novembro Azul deste ano, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) busca chamar a atenção para o fato de que o câncer de próstata apresenta poucos sintomas na fase inicial e que, se o homem esperar pelos sintomas, pode descobrir a doença em estágio avançado e possivelmente em metástase — quando as células cancerígenas se espalham para outros órgãos.

Os exames de rastreamento para esse câncer devem ser realizados a partir dos 60 anos de idade. No entanto, se o homem tiver histórico familiar de câncer de próstata antes dos 60 anos, além de obesidade e exposição a agentes químicos, é recomendado que ele faça o exame antes do tempo indicado.

Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/2024/11/6/