O índice de afastamento do trabalho por causa de dores na coluna vem crescendo ano a ano. Em 2017, conforme dados do Ministério do Trabalho, o problema era o quinto principal motivo de dispensa por mais de 15 dias, perdendo somente para fraturas de punho e mão, de pernas, de pé e de antebraço. Ainda segundo a pasta, entre janeiro e julho de 2021, casos de desconforto lombar, dorsal ou cervical passaram a ocupar o segundo lugar no ranking de motivos de afastamentos. No período, cerca de 55 mil licenças temporárias foram expedidas, atrás apenas das dispensas por Covid-19, que somaram mais de 68 mil casos no mesmo intervalo de tempo.
Presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia, Mariana Peixoto explica que, na maioria das vezes, essas dores nas costas têm origem mecânica, ou seja, não são provocadas por doenças inflamatórias. “Pode ser, por exemplo, uma dor muscular gerada por contraturas, como aquelas ligadas a algum pinçamento de nervo, no caso das hérnias de disco”, avalia.
A médica ainda alerta que, além das razões mecânicas e ambientais, como a má postura, a lombalgia e a dorsalgia (como são chamadas a dor nas partes baixa e alta da coluna, respectivamente) podem ter raízes em doenças reumatológicas. “A principal doença inflamatória autoimune que leva a dor nas costas é a espondilite anquilosante, que está no espectro da espondilose, ou artrose na coluna – condição em que há alterações degenerativas de estruturas da coluna. Este é um problema comum, que afeta mais de 150 mil pessoas por ano, sendo três vezes mais recorrente na população masculina. Os primeiros sintomas aparecem geralmente no início da vida adulta”, detalha, informando que, em muitos casos, a causa do problema é desconhecida, embora se acredite que a predisposição genética seja um fator importante para a ocorrência da doença. Mariana lembra que inflamações intestinais também podem ter como sintoma a dor nas costas.
Ela acredita que o aumento da incidência e da gravidade dos casos de dores nas costas esteja diretamente relacionado à pandemia. Não que o problema seja uma sequela comum entre pessoas que sobreviveram à doença, mas sim por ele estar associado a comportamentos que se tornaram mais comuns desde que o coronavírus impôs uma série de restrições ao cotidiano de parte da população.
“A partir de 2020, quando a crise sanitária chega ao Brasil, observamos o aumento da lombalgia e da dorsalgia em toda a população, inclusive em pessoas de faixas etárias que não eram tão habituais nos consultórios, como crianças e adolescentes”, observa a profissional, sinalizando que esta não foi a única mudança no perfil de pacientes atendidos. “Em casa, sentados por longos períodos em cadeiras e utilizando mesas que não são ergonômicas, muitos passaram a se queixar desse desconforto, que, antes, era mais comum entre trabalhadores que precisavam ficar muito tempo de pé, como atendentes de lojas, ou entre aqueles que precisavam carregar cargas muito pesadas, como entregadores”, cita.
“Algumas pessoas, trabalhando ou estudando em casa, chegam a ficar sentadas na cama ou no sofá, em posições que são prejudiciais para a coluna. Além disso, usando o celular ou um notebook, a inclinação da cervical também se torna um problema, uma vez que a tela não fica rente aos olhos, exigindo que a pessoa fique olhando para baixo. Em longo prazo, essa postura também vai gerar problemas”, adverte, ressaltando a importância de pessoas individualmente, mas também empresas e instituições de ensino, se preocuparem com a ergonomia, evitando, assim, que casos de afastamento por lombalgia se tornem ainda mais rotineiros.
Sedentarismo
Mariana Peixoto lembra que a ausência de atividades físicas é outro fator para o desenvolvimento das dores de coluna. “Todo tipo de exercício é benéfico, sendo um problema o sedentarismo, que se tornou algo ainda mais grave na pandemia. Agora, ficando em casa, muita gente deixou de fazer qualquer atividade. Mesmo pequenas caminhadas, como até o trabalho ou a escola, deixaram de acontecer, o que também contribui para o aumento do volume de casos”, opina.
“Embora seja importante dizer que o melhor tipo de exercício é aquele que você faz, ou seja, o importante é não ficar parado, quando falamos de dores na coluna, o fortalecimento muscular, sobretudo do core, que compreende a musculatura profunda das regiões abdominal, lombar e pélvica, é fundamental. Essa parte do corpo nos ajuda a ter equilíbrio e, com ela fortalecida, a coluna fica menos sobrecarregada, o que vai reduzir riscos de eventuais complicações”, observa a especialista, citando que práticas como o pilates, método que representa ganhos quanto à consciência corporal, são recomendáveis tanto para o tratamento de alguns pacientes quanto como recurso preventivo.
“Os exercícios funcionais, que também têm abordagem de core e musculatura interna e são oferecidos em muitas academias de ginástica, também podem auxiliar nesse sentido”, complementa, ponderando que o acompanhamento profissional das atividades é crucial, uma vez que fazer exercícios de maneira inadequada pode provocar ou piorar problemas na coluna.
Negligência. Por se tratar de potencial sinal de doenças mais graves, a presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia assevera que a lombalgia não deve ser negligenciada. “É muito comum tratar esses incômodos com remédios, sem buscar ajuda profissional. Mas, se o problema é persistente e gera transtornos, o ideal é ir atrás de auxílio e marcar uma consulta médica, só assim será possível fazer um diagnóstico preciso e se iniciar o tratamento ideal antes de um agravamento do quadro”, sinaliza Mariana Peixoto.
Ela comenta que, geralmente, correções ergonômicas e a indicação de atividades físicas podem ser suficientes. Em alguns casos, o uso de medicamentos será recomendado. Em situações extremas, pode ser necessária a realização de uma cirurgia, como aquela para a retirada de hérnias de disco.
Fonte: https://www.otempo.com.br/interessa