Você já se perguntou por que o seu cocker spaniel gosta tanto de farejar ou por que o seu border collie literalmente corre em círculos ao seu redor? Bem, cientistas também fizeram este questionamento, e uma equipe do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Hdumano, em Maryland, acredita que a resposta está no código genético canino.
Ao analisar o DNA de mais de 200 raças de cães, os pesquisadores conseguiram classificá-los em dez grupos com base em sua linhagem genética. Cada grupo exibiu comportamentos específicos, e os especialistas conseguiram ligá-los a certos genes que os cães compartilham.
Krishna Veeramah, geneticista da Stony Brook University que não esteve envolvido no estudo, disse ao Daily Mail UK que os lobos viviam nos arredores dos acampamentos de caçadores-coletores, alimentando-se de lixo criado pelos humanos.
“Os lobos que eram mais mansos e menos agressivos teriam sido mais bem-sucedidos na tarefa e, embora os humanos inicialmente não ganhassem nenhum tipo de benefício deste processo, com o tempo eles teriam desenvolvido algum tipo de relacionamento simbiótico [mutuamente benéfico] com esses animais, eventualmente evoluindo para os cães que vemos hoje.”
Ao longo do tempo, os humanos começaram então a selecionar cães capazes de realizar tarefas específicas, resultando nas raças de hoje.
“O maior e mais bem-sucedido experimento genético que os humanos já fizeram é a criação de 350 raças de cães”, disse a autora sênior da pesquisa, Elaine Ostrander, também ao Daily Mail UK.
“Precisávamos de cães para pastorear, para nos guardar, para nos ajudar a caçar, e nossa sobrevivência dependia intimamente disso”, completou.
Como o estudo foi realizado
Para o estudo, publicado nesta semana na revista científica Cell, os pesquisadores procuraram identificar os genes que os humanos estavam involuntariamente aprimorando e que davam aos cães os seus comportamentos desejáveis.
No entanto alguns comportamentos também podem estar parcialmente ligados a características físicas, como pernas ou narizes longos, que também foram escolhidos por reprodução seletiva.
“Portanto, identificar a genética do comportamento canino pode ser complicado”, disse a pesquisadora Emily Dutrow, também envolvida no estudo.
A equipe analisou o DNA de 4 mil cães de raça pura, mestiça e semi-selvagem, bem como canídeos selvagens, provenientes de mais de 200 raças de cães.
Em seguida, eles categorizaram todas as raças em dez grupos, cada um dos quais compartilhava uma linhagem genética importante. Ficou claro que cada um continha raças historicamente usadas para uma tarefa específica, como pastorear gado, caçar a partir do olfato ou por meio da visão.
Isso sugeriu que as raças de cada grupo compartilhavam um conjunto comum de genes que resultavam em certos comportamentos. Estes, por sua vez, tornavam os cachorros adequados para seu papel.
Os 10 grupos de cães e seus comportamentos singulares
Grupos de cães | Comportamentos singulares e trabalhos históricos | Exemplos de raças |
Linhagem pointer-spaniel | Diminuição da agressão dirigida a estranhos e a cães. Trabalhos históricos: muitos foram usados como “cães de caça”, auxiliando os caçadores, apontando a presa, jogando-a no ar, etc. | Cocker spaniel, springer spaniel inglês, setter irlandês, braco alemão de pelo curto, vizsla |
Linhagem de pastoreio | Correlação positiva muito forte com o medo não social. Trabalhos históricos: proteção ou deslocamento de gado | Border collie, pastor-de-shetland, welsh corgi pembroke, boiadeiro-australiano |
Linhagem de cães de trenó | Instinto predatório moderado e baixa treinabilidade. Historicamente usados para transportar cargas (pessoas ou objetos) | Malamute do Alasca, husky siberiano |
Linhagem terrier | Correlações positivas com medo dirigido por cães, agressão, rivalidade, medo não social e impulso predatório. As raças do grupo têm sido historicamente usadas para controle de animais daninhos ou por caçadores para expulsar as presas de seus esconderijos | Jack russell, fox terrier de pelo duro, cairn terrier, terrier irlandês, soft coated wheaten terrier, airedale terrier |
Linhagem scent hound | Forte correlação negativa com a treinabilidade. Correlações positivas com medo não social e rivalidade canina. Essas raças são geralmente usadas por caçadores para rastrear caça, principalmente por meio de trilhas de cheiro | Bloodhound, foxhound-inglês, petit basset griffon vendeen |
Linhagem retriever | Baixo impulso predatório. Trabalhos históricos: cães de caça e nadadores, usados especificamente para recuperar caça | Labrador retriever, golden retriever, chesapeake bay retriever |
Linhagem spitz asiático | Correlação positiva com agressão dirigida pelo tutor e correlação negativa com treinabilidade. Esta linhagem é definida mais pela origem geográfica do que por seu papel histórico de trabalho. A linhagem do spitz asiático inclui um grupo diversificado de raças de trabalho, incluindo cães de caça e de guarda | Chow chow, akita, mastim tibetano, shiba inu |
Linhagem sighthound | Menor energia e excitabilidade. Essas raças foram historicamente usadas para caça, devido à sua velocidade (e usando a visão, em oposição ao cheiro) | Lébrel irlandês, whippet, greyhound, borzoi |
Linhagem africana e do Oriente Médio | Baixa representação na avaliação e pesquisa comportamental respondida por tutores | Saluki, rhodesian ridgeback |
Linhagem dingo | Baixa representação na avaliação e pesquisa comportamental respondida por tutores | Dingo, new guinea singing dogs, highland wild dogs |