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terça-feira, março 24, 2015

Tenente Fonseca

O Tenente Fonseca, da Polícia Militar de Minas Gerais, foi o terror dos marginais nas décadas de 30 e 40, em nossa região, mais precisamente em Alto Rio Doce, Cipotânea, Capela Nova, Rio Espera e Senador Firmino. Atuava, também, no município de Piranga e seus distritos: Calambau, Porto Firme, Guaraciaba e Senhora de Oliveira.
Ouvimos vários comentários sobre a atuação desse Tenente, sendo a principal fonte de informação o livro: Cipotânea: fala-feio, fala-bonito, do autor José Geraldo Heleno. Eis alguns tópicos do livro:
“(...)Esse lendário Fonseca teria apanhado as anotações do Colega Messias e partido para a ação... Os suspeitos de roubo do boi do Zeca Couto (de Alto Rio Doce) apareceriam, poucos dias depois, pendurados nos galhos de uma árvore, no lugar chamado Vargem Grande. Estavam lá enforcados.”
“ As ações repressivas iniciavam-se, com frequência, com a senha: O galo canta, o pinto pia, agora mesmo a coisa chia. No fechamento de festas com dança, era o sinal para os auxiliares, Sansão e Ananias, entrarem em ação. Seus ordenanças já a conheciam. Era hora de acionar o chicote.”
“Pelos lados do Córrego da Brejaúba, prenderam e espancaram um tal Pedro Percidina que, em consequência da surra, veio a falecer alguns dias depois. Em Capela Nova, um sujeito ficou manco para o resto da vida, após o interrogatório que sofreu. O Juca de Hortogamino, depois de morto, teve amarrados os pés e suas mãos num pau e levado para São Caetano. O mais comum era o acusado de roubo de cavalos ser pego e não chegar vivo a São Caetano ou a Alto Rio Doce.”
“ Mercês era um centro comercial extraordinário. Era mais que Barbacena, mais que Ubá. Entravam ali, por dia, 40 a 50 tropas, cada uma das quais formada de 10 a 15 burros. Eram, portanto, mais de quinhentos animais de carga todo dia. Mercês era a ponta da linha férrea, que tanto levava sal, açúcar, querosene, vinhos baratos, ferramentas, miudezas e outros produtos para o consumo da região, como escoava galinhas, grãos e outras riquezas daquelas cidades próximas. Era uma praça extraordinária o final do ramal Piranga.”
No mesmo livro consta que o Tenente Fonseca foi chamado para conter o grande número de roubos de cavalos que estava ocorrendo na região. Em Senhora de Oliveira, comenta-se que, certa vez, ao passar pela Praça do então distrito de Piranga, o Tenente ouviu um bêbado soltando “um sonoro”. O bêbado foi preso e, depois de levar uma surra, foi liberado.
Dizem, em Guaraciaba, que o Tenente Fonseca foi lá prender um criminoso. O sujeito tinha um enorme bigode. A primeira coisa que o Tenente fez foi arrancar o seu bigode com as mãos.
Em Piranga, ouvi que, certa vez, o Fonseca prendeu um ladrão na região e o levou para a cadeia de lá. Como o ladrão tentou fugir, o Fonseca lhe fez a seguinte proposta:- Você vai tentar atravessar a ponte sobre o Rio Piranga . Assim que você passar da metade da ponte, o meu ajudante vai dar um tiro em sua direção. Se você conseguir atravessar a ponte, estará a salvo. Dizem que, quando o homem estava quase alcançando o outro lado, foi atingido por um tiro, caiu no rio e não conseguiu se salvar.
Aqui em Calambau, Expedito Moreira e seu irmão, compadre João Moreira, me disseram terem ouvido de seu pai, Sr. Onésimo Moreira, que, certa vez, Fonseca foi chamado para prender criminosos em Cruzes. Foram presos alguns que seriam levados para Piranga. Fonseca parou com eles em sua fazenda no Xopotó. Todos os presos estavam amarrados e foram levados para o engenho de cana. Fonseca e seus auxiliares foram almoçar com o dono da casa. Antes, ele pediu ao pessoal da fazenda que desse apenas água aos presos. Acontece que entre eles estava um compadre do Sr. Onésimo que deu um jeito de dar um prato de comida para todos, já que aqueles homens iriam andar uns cinquenta quilômetros a pé.
Na região do Baía (zona rural de Calambau) o pessoal estava reunido para um jantar de casamento, quando alguém gritou que o Fonseca estava vindo com mais dois soldados... Não ficou um homem no terreiro onde estava a mesa com as comidas. Só ficaram as mulheres e as crianças. Fonseca chegou e perguntou se naquela terra não havia homens. A dona da casa os convidou para o almoço, eles aceitaram e, após dizerem que só estavam de passagem, foram embora. Daí a pouco, os homens foram chegando ressabiados...Este fato me foi contado por Zé Lourenço, lá do Quenta Sol, que o ouviu de seu pai, Sr. Claudino, que nós chamávamos de Colodino.
Essa é a história do Tenente Fonseca que se tornou uma figura lendária na região. Alguns fatos talvez tenham sido aumentados pelo imaginário das pessoas, mas ninguém duvida que ele tenha existido e moralizado a região.
Atualmente, com os constantes roubos em fazendas da região, bem que poderia aparecer um novo Tenente Fonseca...
Murilo Vidigal Carneiro
Calambau, janeiro de 2015