Em meio à pandemia, uma boa notícia surge com os primeiros resultados de uma vacina genética contra o coronavírus, foi divulgada recentemente nos Estados Unidos. A empresa de biotecnologia Moderna, afirmou que oito voluntários vacinados desenvolveram defesas contra a Covid-19 e que o imunizante se mostrou seguro.
Embora o teste seja pequeno, marca o início do desenvolvimento de uma vacina, única forma de controlar a pandemia de Covid-19, além do distanciamento social. Uma vacina pode não somente controlar o vírus, como também dar segurança à economia ao promover a chamada "imunidade de rebanho", quando pelo menos 65% da população estão imunizados e o coronavírus não pode mais se espalhar. Pelo menos outras oito vacinas devem apresentar resultados de testes até o fim de junho.
A empresa Moderna afirmou, em comunicado, que poderia ter um imunizante pronto para a produção ainda no fim do ano, mas não forneceu detalhes sobre os testes nem sobre o produto.
Sua vacina é especial não só por ser a primeira a chegar na fase de estudo em humanos quanto por ser feita de mRNA, uma tecnologia genética considerada extremamente segura, barata e simples de fazer. Porém, não existe ainda uma vacina licenciada com essa tecnologia, e o coronavírus será o seu batismo de fogo.
Akira Homma, assessor científico sênior de Bio-Manguinhos?Fiocruz e um dos maiores especialistas em vacinas no Brasil, se diz cautelosamente otimista.
- Essa é uma notícia que todos queríamos ouvir. Vejo com muita simpatia, mas com cautela - afirma.
Vacinas como essa se baseiam na inoculação do chamado RNA mensageiro do próprio vírus, sintetizado por meio de engenharia genética. Como somente um trecho específico do RNA viral é injetado, a pessoa recebe material genético do vírus, mas não desenvolve a doença.
Esse RNA tem instruções para que as células produzam proteínas específicas do coronavírus. No caso, cópias da proteína S, ou espícula. Ela é a "chave" que o Sars-Cov-2 usa para invadir as células humanas.
As proteínas são "exibidas" ao sistema imunológico, que então produz anticorpos em resposta. Em tese, se a pessoa for infectada, terá anticorpos de prontidão para repelir o coronavírus e não adoecerá.
A vacina da Moderna é uma das seis consideradas mais promissoras entre as 110 em desenvolvimento no mundo atualmente, segundo análise de especialistas de biotecnologia feita para o Morgan Stanley.
Elas são bem avaliadas tanto em relação à chance de sucesso clínico quanto à possibilidade de serem produzidas em larga escala. Além da Moderna, estão na seleção os candidatos a imunizantes de Pfizer?BioNTech, AstraZeneca?Universidad de Oxford, CanSino, Johnson&Johnson e Sanofi/GSK. As quatro primeiras, de acordo com analistas, poderiam começar a ser produzidas até o fim deste ano. E as duas últimas, em meados de 2021.
O que se sabe sobre a vacina da Moderna é que foi testada em oito voluntários e todos eles teriam produzido anticorpos. A empresa diz que foram identificados anticorpos neutralizantes, aqueles que podem de fato impedir que o coronavírus infecte células humanas e cause a Covid-19.
O primeiro objetivo do teste, da fase 1, era mostrar a segurança da vacina. Porém, a eficácia do imunizantes também já ficou demonstrada nesta fase, segundo o informe da companhia - na verdade, um boletim interno.
Diz a Moderna que o imunizante é seguro e que não houve reações adversas. Só um volutário teve uma pequena inflamação num braço, no local da injeção.
Somente as doses baixa e média do imunizante (25 e 100 imunizante) foram experimentadas, no entanto. A dose alta não foi testada - a Moderna alegou que isso não foi necessário porque a vacina se mostrou potente nas doses mais baixas.
A eficiência foi avaliada em fases posteriores. Como não se poderia infectar os voluntários com o próprio Sars-CoV-2, a eficácia da vacina foi avaliada, indiretamente, de três formas.
Primeiro, os anticorpos dos voluntários foram testados em células humanas infectadas pelo Sars-Cov-2 in vitro, e impediram a replicação do vírus. Isto é, mostraram-se competentes em laboratório para impedir a infecção.
Além disso, os anticorpos foram injetados em animais (roedores) infectados com o Sars-CoV-2 e impediram que o vírus infectasse suas células e se multiplicasse.
Mas ninguém sabe ainda qual a quantidade de anticorpos que uma pessoa precisa ter para se tornar imune ao coronavírus.
Por fim, então, a Moderna disse que os níveis dos chamados anticorpos neutralizantes extraídos dos voluntários vacinados correspondiam aos encontrados em pacientes que se recuperaram após contrair Covid-19 grave.
A Moderna informou que segue um cronograma acelerado de pesquisa. A segunda fase de testes deve começar nas próximas semanas, com 600 pessoas. A terceira fase, segundo a CEO Stéphane Bancel, está prevista para julho e contará com milhares de voluntários.
Em fevereiro, a empresa já havia se tornado o primeiro laboratório a anunciar ter o protótipo de uma vacina para evitar a Covid-19.
O anúncio teve impacto positivo quase imediato na economia - em especial, para a própria Moderna, cujas ações subiram 40% nos Estados Unidos.
O diretor médico da companhia, Tal Zaks, disse que ainda não se sabe quantas doses da vacina a empresa poderá produzir nem primeiro momento, caso todos os testes tenham sucesso, mas assegurou que seriam milhões.
Foto e Texto Transcritos de O GLOBO - On Line